sexta-feira, 16 de abril de 2010

De volta ao Jardim...


Passo as portas do Jardim e fico observando que ele precisa de alguns cuidados. Faz tempo que não observo os detalhes. Aprecio a brisa aconchegante que passa e paro em frente aos canteiros de rosas.
Vejo algumas roseiras que desabrocham os primeiros botões, fico surpresa com a delicadeza de cores e aromas que agora posso sentir. Arrependo-me de não ter voltado ao jardim antes... Bem...
De repente fixo meu olhar no local em que o Silva e eu tínhamos plantado duas roseiras e noto que elas não mais existem, morreram. Choro a dor da perda. Todo luto deve ser chorando quando preciso. Ouço o canto dos bem-te-vis.
A memória caprichosa traz a mente o dia que plantamos as roseiras, as alegrias de tê-las conosco. Era uma noite iluminada pela lua. Onde até as cigarras estavam afinadas. Noite propicia para plantar roseiras, para cultivar e criar expectativas, para sonhar. Nossos sorrisos foram o adubo no qual as plantamos, nossas esperanças regaram as pequenas mudas.
Sem palavras, dizíamos que ao sentir saudade um do outro, só era preciso está ali perto e sentir o suave perfume que exalaria daquelas futuras roseiras, tudo isso através da janela de nossas almas, pelos nossos olhos. Sentamos em seguida no banco e tocamos para elas, uma doce canção. E nem se tem tom certo para quem está amando, qualquer melodia, vira uma sinfonia que até Mozart quisera ter se não composto, pelo menos tocado. A sinfonia do Amor.
Ando devagar entre as árvores e observo que as copas apesar do tempo estão bem verdes. A amizade é bem resistente, ela consegue armazenar em si, águas de carinho que a nutri, enquanto houver ausência. Caminhando um pouco mais, vejo que os lírios parecem sorrir ao me ver Faz tempo que não presenciava e apreciava a brancura e maciez de suas pétalas, sensações que me fazem sorrir. Começa a anoitecer...
Os pássaros vão entoando seus últimos vocais, acordes suaves que acalmam meu coração. Ainda não entendo porque se deixa esta melodia para trás. Uma lágrima suavemente desliza sobre meu rosto, ainda não me acostumei a entender o silêncio como resposta. A ter a ausência como resposta...
O Jardim vai esfriando um pouco, o projetamos assim, para podermos andar abraçadinhos quando isso ocorresse. As primeiras estrelas estão lá, firmes no céu, no lugar onde as deixamos. Parece que às vezes as estrelas podem ser trocadas de lugar pelos apaixonados, só para dizer que é possível escrever o nome do amado com elas. Apenas, sonhos...
Sinto que já está na hora de ver as orquídeas, elas sempre me fazem bem. Rompendo minhas expectativas, elas estão lá intactas. Floresceram há muito tempo e quiseram não cair. Talvez elas quisessem me dizer algo, por isso ainda estavam lá. Quando as vi, por um instante pensei que pudesse abraçá-las, e senti uma brisa suave que brincava por todo jardim. Sorri e fitei-as.
Aos poucos, fui entendendo que elas não tinham desistido de cumprir suas funções, a sua existência é para trazer beleza ao Jardim. Discerni que eu também sou como elas, e posso prolongar o sentimento que quiser até o dia que queria experimentar novas sensações. Despeço – me delas. Já anoiteceu. Vou para junto do meu velho banco de lembranças e pego o violão. O silêncio invade o jardim, ele entende a riqueza do momento.
Descubro aos poucos que ainda posso tocar, mas preciso afinar o violão primeiro. Então junto os meus nobres sentimentos e vou conseguindo. Não sei se há perfeição nisto, mas há empenho e amor. Paro por um instante, preciso ouvir a melodia do meu coração. Toco um novo arranjo, ele é diferente de todos que já compus. Não sei como explicá-lo. Sua harmonia me acalma e posso mais uma vez sonhar.
Nesse momento vejo que não estou só, um pequeno beija-flor está sentado no encosto do banco, parece que ele gostou da melodia... Seus pequenos olhinhos me encantam. Continuo tocando para meu amigo, ele pousa no violão e fica me olhando, não digo mais nada. As palavras, neste momento, não expressam quase nada do que sinto. Sem uma expressão da alma estampada nos meus olhos elas se perdem...
Afaguei as suas belas plumas e retribui o olhar doce. Queria dizer-lhe que ao encontrar um beijar flor que habitara outrora nosso jardim, ele dissesse que desejo que seja feliz. Talvez, não mais neste jardim... Mas que ele encontre a melodia que o faça voar e pousar a cada dia num só jardim. E que a noite antes de dormir, o que ele mais deseje seja ouvir essa canção ou essa voz para embalar seus sonhos... E lá nosso nobre amigo, queira ficar para sempre.
Quem sabe lá ele possa plantar novas roseiras, cultivá-las com tanto amor, que elas passarão a ser eternas. Ao entardecer de cada dia, ele queira tão somente um banco e um violão para sonhar. E que os olhos que o observarem nesse momento, levem-no ao céu...
Tenho que sair agora... Sei que vou voltar. Ainda há muito para viver, para plantar, amar.  E Amor que é amor deixa saudades...




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